http://stophomofobia27.blogspot.com
Quando e porque decidiu criar o blog Stop homofobia? Ocorreu algum caso desta natureza com você ou com alguém de sua família e isso lhe fez criar o blog?
Tive um amigo que entrou em profunda depressão após ter sido rejeitado (por ser homossexual) pela própria família- a qual ele era muito apegado. Infelizmente em Dezembro de 2010 perdi esse amigo para o suicídio. Aliás, estima-se que em media 3 homossexuais se suicidam por dia no Brasil. Muitos por motivos como esse.
A partir desse incidente eu decidi criar o STOP Homofobia talvez até como uma forma de “evitar” que por uma simples falta de informação aconteça tragédias como essa.
Já recebeu comentários agressivos no blog?
São freqüentes, desde insultos até ameaças. Na internet por causa do anonimato, as pessoas se sentem mais seguras e confortáveis para expor seus sentimentos mais “preconceituosos”. Mas em compensação, um comentário de apoio vale mais que cem comentários de preconceito sem argumento.
Você é otimista em relação ao que o seu blog pode fazer para mudar a cabeça de pessoas com este tipo de preconceito?
Com certeza, quando algum leitor comenta que não entendia do assunto, não sabia o que significava tal palavra, e se esclareceu com alguma matéria no blog. Ou quando pais de homossexuais me pedem informação sobre o assunto. É muito gratificante.
Tem algum blog voltado para o mesmo tema que gostaria de recomendar?
Eu indico o site do Grupo Arco-Íris, o grupo vem lutando conta a discriminação desde 1993 http://www.arco-iris.org.br/o-grupo/,
Como acha que a homossexualidade é vista no Brasil?
O Brasil -ao contrário da imagem que vende no exterior- está longe de ser o paraíso da liberdade sexual. Por tolerar o fenômeno do travestismo durante o carnaval, nosso país passa a idéia de que a homossexualidade e a transexualidade são aceitos e disseminados em território nacional. Triste engano!
Na sua opinião, o que gera este tipo de preconceito?
Existem vários fatores que geram o preconceito contra homossexuais, a falta de informação e insegurança, por exemplo, são os mais pertinentes.
Somente quando estamos seguros do que conhecemos e acreditamos é que temos condições de dialogar e discutir idéias. Caso contrário, caímos na estupidez do preconceito e da ofensa pura e simples... Muitos estudos comprovam que homofobicos podem ser homossexuais reprimidos, isso funciona como um jeito de descarregar a raiva contra a própria homossexualidade.
Acha que pelo menos algum dogma foi possível transpor nestes últimos anos?
A visibilidade do homossexual está maior, é inevitável ouvir comentários de profunda ignorância do tipo “tem muita gente virando gay” entre outros. Ninguém vira gay! Acontece que os GLBT estão se assumindo mais, estão “saindo do armário” em busca da igualdade. Mas isso não quer dizer que o preconceito diminuiu.
Tem algum livro que possa recomendar as pessoas, sobre homossexualidade. Seja livro educacional, ou livro de ficção...
Vou indicar alguns que li e recomendo:
O armário – Fabrício Viana
Morte em Veneza – Thomas Mann.
Falsas aparências - Sarah Waters
Primeira carta aos andróginos - Aguinaldo Silva
Homossexualidade é uma opção?
Homossexualidade não é uma opção. As pessoas -em geral- não têm a opção de amar ou não alguém, apenas ama. Você não sabe explicar por que gosta do azul e não do vermelho, apenas gosta.
Eu acredito que ninguém escolhe ser discriminado, diminuído, excluído, maltratado, humilhado, além de ter 72 direitos humanos negados. Pois é exatamente assim que os homossexuais são tratados.
Eu não me lembro na escola de receber, seja de um professor ou algum palestrante, algum tipo de conselho ou orientação, para não tratar diferente um possível aluno gay. Acha que falta uma atenção maior para este problema nas escolas?
A principal arma nessa luta contra a homofobia é a educação, é indispensável que a equipe pedagógica se informe e repasse para os estudantes (os quais estão em formação de caráter) a importância do respeito á diversidade cultural, sexual e religiosa. O Kit - Anti Homofobia –quando aprovado- será um grande avanço para a educação no Brasil. Temos que usar o conhecimento para acabar com o preconceito.
E quanto aos pais? Qual o erro mais comum que eles cometem?
Os pais têm que quebrar a imagem de achar que um filho homossexual é um filho pervertido, doente ou tantas outras imagens errôneas. Infelizmente a surpresa é inevitável, ninguém acha que acontecerá com você ou com a própria família, e quando acontece , ficam chocados. Esse é outro erro, pois a homossexualidade e tão natural quanto a heterossexualidade e a bissexualidade.
Falar sem pensar, ofensas e brigas são totalmente desnecessárias. Não falar sobre o assunto - ignorar é tão pior quanto.
Aceitar o filho Homossexual e lidar com essa situação é a melhor e única maneira de manter uma boa relação com ele. O que muitos pais esquecem é que quando os filhos descobrem-se homossexual, a angústia do filho é gigantesca e avassaladora. E você pode ter certeza, é nessa hora que seu filho mais precisa de você.
Prejudica também a forma como os homossexuais são tratados nas novelas? Não apenas o fato de não ter acontecido o beijo gay. Os personagens gays me parecem caricatos, eles sempre possuem diminutivos no nome meio que infantilizando os personagens... Já encontrou um personagem homossexual que foi bem tratado na teledramaturgia brasileira?
Uma vez vi no Zorra Total, da Rede Globo, havia um quadro no qual o pai estava falando de quão macho era seu filho aos amigos e de repente, este filho aparecia saltitando e gritando: “Papi!” Ao final, o pai virava-se para a câmera e perguntava: “onde foi que errei?” Aqui está uma das grandes provas de como se vê a figura de um homossexual, isto é, como aquele que é um erro, um desvio, um coitado que saiu anormal, alguém desprezível, uma pessoa com a qual deve-se tomar cuidado e manter certa distância. O mesmo caso no programa “A praça é nossa” que havia o quadro do “ex-gay”, passando uma imagem de que a homossexualidade é uma escolha, algo que pode ser feito e desfeito, um motivo de piada.
Na novela Mulheres Apaixonadas o casal de homossexuais femininas vividas por Paula Picarelli e Alinne Moraes, foram bem tratados na teledramaturgia brasileira em questão do preconceito na escola, na família e do amor sem estereótipos... Inclusive, elas conquistaram os telespectadores, que torceram pelo final feliz das personagens.
E quanto aos humoristas que fazem piadas com gays? Considera elas ofensivas ou são apenas piadas, não devem ser levadas a sério. O humor tem que ter algum tipo de limite quando se trata de homossexualidade?
As piadas são sempre sobre minorias ou oprimidos, particularmente piada é piada, como sugere não deve ser levada a serio. Porém, a piada carrega sempre estereotipo e preconceito, sempre. Então dependendo da piada, pode ser ofensivo.
Hoje, como pode se defender, legalmente falando, uma pessoa que considerar ter sofrido de homofobia? O que exatamente é considerado crime homofóbico?
No Brasil, ainda não temos uma lei especifica contra a homofobia. Os crimes homofobicos são referidos como crimes de ódio, ou seja, tendo como motivo a não aceitação e ódio por parte do agressor em relação à vítima por ser gay, lésbica, bissexual ou transgênero; Há outros crimes homofobicos, que são tão violentos quanto à agressão física como é o caso do bullying, uma forma de violência psicológica, onde as vitimas sofrem humilhação, provocação e agressão verbal.
O GLBT que sofreu algum tipo de preconceito pode denunciar no Disque 100 que atende 24 horas e é gratuito.
E como a religião tem afetado esta situação, já que muitos religiosos consideram homossexualidade um pecado?
É quase impossível, abordar a homossexualidade e não falar de religião, já que a igreja em pleno século XXI dita as leis de um Estado laico e dificulta a igualdade de direitos. O que em minha opinião, por culpa de uma má interpretação ou leitura seletiva da Bíblia. Poderia continuar, mas prefiro indicar um ótimo documentário que aborda o assunto religião/homossexualidade, “A bíblia me diz assim” o qual está disponível para download no site do STOP Homofobia.
Frase: Eu geralmente termino com a frase do entrevistado, mas como este é um assunto muito sério, lhe abro espaço para falar o que quiser sobre homofobia. Reforçar uma questão ou articular algo que minhas perguntas não lhe permitiram dizer... Exponha aqui o que bem entender:
"Época triste a nossa, mais fácil quebrar um átomo do que o preconceito!" (Albert Einstein)
*É preciso relembrar algo que, parece simples, mas não é: a terminologia. A Organização Mundial de Saúde (OMS) excluiu o “homossexualismo” da lista de doenças em 1° de janeiro de 1993. Essa situação já fez mais de 15 anos. Sufixos “ismo” denotam doenças. Portanto, o termo homosexuaLISMO está equivocado, ultrapassado e pejorativo. O correto é HomossexuaLIDADE.
Obrigado pela entrevista
As pessoas precisam aprender a respeitar de acordo como elas são não dá para julgar como se fossem erros,usar artifícios de religião para menosprezar e inferiorizar pessoas que vivem em um País Laico,democrático e pagam seus imposto igual aos demais não dá.
ResponderExcluirBruno, mais uma vez parabéns pela entrevista, perguntas importantes, respostas perfeitas.
ResponderExcluirDiria apenas que a educação deveria tratar da discriminação, seja qual for!
Vou acompanhar seu site!
Beijo no coração
Olá Bruno,
ResponderExcluirParabéns pela entrevista.
Gostei muito do formato e conteúdo, incluindo perguntas e respostas.
Sobre os livro indicados, li o Thomas Mann. Muito bom.
Não me lembro de estar seguindo o seu blog. Mas, se não, resolverei agora! rs.
AH! Se me permite, aproveito para mandar um abraço para Valéria e Fábio.
Fui!
Um abraço.
Ótimo tema Bruno, com boas perguntas e grandes respostas. Infelizmente ainda vivemos em uma sociedade extremamente preconceituosa, preconceito este que muitas vezes é escondiso sob uma mascara de tolerancia. Somos todos iguais, merecemos o mesmo respeito e as mesmas oportunidades. É muito importante que sejam adotadas leis que lidem de maneira eficiente com os preconceitos, sejam de qual espécie for.
ResponderExcluirGRANDE abraço para os dois!
Olá Bruno, parabéns pela entrevista com um tema tao atuante, mas lamentavelmente, ainda tao criticado, discutido e até ridicularizado por muitos...
ResponderExcluirQuem sabe com pequenas iniciativas como essa, a gente consiga aos poucos, romper tabus....
Beijao!!!